Bate-papo profissional: telemedicina pelo mundo e tendências para o Brasil

Telemedicina ao redor do mundo e suas tendências para Brasil

Desde que a primeira resolução sobre a telemedicina foi publicada no Brasil, em 2002, quase 20 anos se passaram e a sua regulação no pós pandemia ainda levanta muita discussão.

Enquanto isso, mercados como o europeu e o norte-americano têm as teleconsultas incorporadas há vários anos e hoje já desfrutam de mais maturidade dos profissionais e dos pacientes que passam pelo atendimentos remoto - o que tem sido um grande ganho durante o atual surto de Covid-19.

Segundo o estudo HIMSS Analytic eHealth Trendbarometer, 93% das unidades de saúde europeias implementaram ao menos um tipo de serviço ou solução de telessaúde desde o começo da pandemia.

Mas que tipo de doenças e quais soluções a telemedicina está ajudando a resolver nesses mercados mais maduros? O que faz com que o seu nível de aceitação varie entre os países? E como será sua adesão no Brasil nos próximos anos?

Para responder a essas perguntas, a Doctoralia promoveu um bate-papo entre o ortopedista Murilo Oliveira de Almeida, especializado em cirurgia do quadril e sócio da Clínica do Esporte, em Goiânia, e Joe Lopez, Analytics & Insight Leader da Procter and Gamble Health na América Latina, para complementar essa visão de mercado.

A seguir você confere as principais discussões levantadas neste encontro e o vídeo, ao final deste artigo.

Como vocês enxergam a transformação digital do setor de saúde nos últimos meses, comparado aos com anos anteriores?

Joe Lopez abre a discussão afirmando que sofremos uma grande mudança social desde o início da pandemia e que isso certamente acelerou o processo de digitalização em diversos setores, inclusive o da saúde. 

“Não contrair o vírus da Covid-19 se tornou a principal preocupação no mundo e ela está transformando o nosso comportamento em sociedade.”

Pelo fato de estarmos mais tempo em casa, o consumo de internet teve um aumento assombroso, assim como as compras por e-commerce, atividades em redes sociais e os negócios online. Na visão do profissional, esse é um movimento inevitável, pois as pessoas estão procurando soluções para atenderem suas necessidades, o que inclui também a forma de se relacionarem com seus médicos.

Para o Dr. Murilo, a possibilidade do paciente de receber auxílio à distância está ajudando, inclusive, a desamarrar a burocracia que existe em torno da telemedicina no nosso país. 

Na visão de vocês, quais os principais fatores que facilitaram que aceitação da Telemedicina fosse mais rápida na Europa?

Joe Lopez acredita que questões estruturais nas economias sejam a principal resposta. Um dado do Banco Mundial apresentado pelo especialista indica que 50% da população na América Latina ainda vive de trabalhos informais, o que, para ele, é um determinante para limitar a conexão com internet e até mesmo a abertura de conta em banco e a adoção de pagamentos digitais. Tudo isso acaba dificultando o acesso a qualquer serviço online.

De março até a o final de agosto, mais de 300 mil consultas online haviam sido realizadas pela Doctoralia no Brasil. Quais as maiores dificuldades para adaptação à modalidade?

Na visão do Dr. Murilo, a questão social do Brasil ainda é um dos pontos determinantes para para a adaptação à telemedicina, pois divide muito o perfil dos pacientes. Para ele, existe um grupo muito grande de pessoas que ainda não tem instrução para se preparar para uma consulta online e, por outro lado, um grupo que cada vez mais se identifica e pede pelos atendimentos à distância.

Outro ponto levantado foi o dos planos de saúde que, segundo o ortopedista, ainda dificultam o acesso às consultas remotas por não estarem integrados às plataformas de atendimento, tornando impossível a faturação dos procedimentos e o acesso para os pacientes.

Como exemplo, ele cita o caso de convênios regionais, que trabalham exclusivamente com prefeituras e governos estaduais e têm sistemas de execução muito diferentes de um estado para outro.

Por outro lado, ele também reconhece que as teleconsultas ajudaram a baratear o custo dos retornos, principalmente para pacientes que vivem em cidades do interior. 

“A partir do momento em que é possível avaliar exames remotamente, poupamos a vinda do paciente e a sua exposição desnecessária ao vírus, pois conseguimos ter um resultado exatamente igual ao da consulta presencial.”

Joe Lopez complementa com a sua experiência no mercado latino americano, afirmando que também nas grandes cidades os pacientes valorizam muito a possibilidade de fazerem consultas de seguimento de maneira virtual. Para ele, o tempo é uma das coisas que as pessoas mais buscam economizar nos dias de hoje, independente da pandemia.

Vocês notam que ainda existe resistência dos pacientes para serem atendidos de forma remota?

Segundo o Dr. Murilo, esta é uma questão que ainda pode variar muito de acordo com perfil e a localização do paciente.

De acordo com a experiência que adquiriu desde o início da pandemia, a aceitação de seus pacientes tem sido muito boa, principalmente quando as consultas online e presenciais podem se complementar, trazendo um ganho de tempo enorme para ele e para os pacientes.

A questão financeira do atendimento médico também vai ser muito influenciada, na visão do profissional.

“Vamos conseguir economizar tanto no fluxo de deslocamento do paciente, como em estacionamento, impressão de exames, sem contar na diminuição dos níveis de poluição. A Telemedicina não vai chegar. Ela chegou.”

Vocês acreditam que Brasil será capaz de acompanhar a rápida transformação na telessaúde?

Joe Lopez explica que a pandemia tem levado economias do mundo todo a descobrirem os benefícios dos serviços digitais para oferecer assistência de qualidade ao paciente e esse movimento tende a acelerar os investimentos em tecnologias de comunicação e diagnóstico à distância. 

Ele complementa dizendo que o envolvimento do governo para delimitar os aspectos corretos da Telemedicina será fundamental nesse período de maturação da Telemedicina no Brasil.

Como a Telemedicina tem ajudado em seu trabalho desde o início da pandemia, Dr. Murilo?

Para responder a essa pergunta, o ortopedista é bastante enfático ao dizer que não acredita que a Telemedicina venha substituir a medicina tradicional, mas sim, complementá-la. Ele segue citando 3 ganhos que foram incorporados no seu trabalho desde que a modalidade foi liberada:

O primeiro foi no processo de triagem. Segundo ele, ter a possibilidade de um pré atendimento virtual tem ajudado a evitar consultas desnecessárias, como em casos em que o paciente precisaria ser atendido por um profissional de outra subespecialidade, por exemplo. Isso ajuda o paciente a ganhar tempo, o bem mais precioso que temos hoje.

O segundo benefício seria a facilidade do paciente para obter uma segunda opinião quando recebe um diagnóstico e precisa sanar dúvidas. O processo de encontrar e contactar com outro profissional se torna muito mais simples.

E por fim, a facilidade nos retornos. 

“É importantíssimo entendermos que a medicina vai continuar sendo bem feita, como sempre foi. O que ganhamos formam mais possibilidades de atuação.”

Joe complementa fazendo uma analogia com os meios de comunicação: mesmo com grandes empresas chegando no mercado, como Google e Facebook, o rádio e a televisão não deixaram de fazer parte da vida das pessoas. O mesmo acontece na saúde. Quanto mais opções tivermos em mãos, melhor será a ajuda que poderemos oferecer ao paciente.

Com a liberação da Telemedicina, recursos complementares precisaram se desenvolver, como as prescrições eletrônicas. Vocês acreditam que o mercado já está preparado para elas?

Joe Lopez acredita que a necessidade primordial deste momento é possibilitar a comunicação remota entre médicos e pacientes de forma clara e simples, levando os investimentos a estarem mais voltados às tecnologias de vídeo agora mesmo. 

No entanto, ele vê como uma questão de tempo até que tecnologias de prescrição online estejam mais simplificadas. Quanto mais pessoas começarem a se consultar de forma online, mais outras partes deste sistema também vão se desenvolver, como as receitas, a segurança de dados dos pacientes e os diagnósticos à distância.

Recentemente, P&G Health e Doctoralia se uniram pela campanha sobre a Neuropatia Periférica 'Escute Seus Nervos' Qual benefício o Doutor enxerga em campanhas como esta?

O Dr. Murilo acredita que estas campanhas são essenciais para o meio médico, porque ajudam conscientizar grupos maiores de pessoas e facilitam a chegada de informação séria a pacientes que realmente precisam de tratamento.

Muitas vezes o paciente nunca foi diagnosticado, até ser impactado por campanhas dessa natureza. Isso os ajuda a ter mais esclarecimento e até a achar ajuda mais rápida e mais adequada. 

Vídeo completo: Telemedicina ao redor do mundo 

 

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